Todo dia eu me deparo com alguém comentando sobre seus cenários de campanha em redes sociais e aplicativos de conversa. Eu confesso que adoro ler essas paradas! E fico muito feliz de saber que o 1º cenário oficial para Old Dragon veio de um concurso de cenários caseiros. Isso é bem legal mesmo!
Mas eu tenho que confessar que alguns de nós, mestres e narradores, acabamos meio intransigentes, ciumentos e até tirânicos, quando o assunto é o cenário de campanha. Parando para pensar, eu acho muito ruim que mestres imponham os seus cenários de estimação aos jogadores e venho tentando mudar isso em minhas mesas.
Eu tenho uns cadernos com cenários que criei e entendo que muitos possuam um cenário caseiro, que já viu dúzias de campanhas ao longo dos anos e que cresceu conforme o avanço destas campanhas. Entretanto, a questão sobre o cenário é se realmente o grupo quer jogar nele! Talvez queira, mas quantas vezes perguntamos isso para eles? Eu, quase nunca e você?
Como mestre é fácil se impor sobre o grupo, ainda mais se os jogadores não tiverem outra opção de mestre, mas não seja este cara!
Eu narro um monte de sistemas diferentes, uns bem old school e outros mais narrativistas e tal, mas percebi que quando o assunto é fantasia medieval as coisas parecem mudar muito pouco. Por isso eu decidi sair da minha zona de conforto neste gênero e entregar aos meus jogadores mais poder de criação e decisão.
Então, baseado nisso eu resolvi criar uma regra caseira para permitir que os jogadores atuem na criação do cenário, de forma divertida e lúdica. Eu não irei escrever nenhuma linha do cenário! Não usarei um cenário conhecido e não criarei nem os famosos “pontos de luz em um mundo de escuridão”. Os jogadores é que criarão tudo de forma livre.
Não teremos um livro com 200 páginas de cenário engessado e que ninguém lê, mas um amarrado de fatos e verdades que dão forma ao cenário. As lacunas vazias existirão e nós iremos preenche-las durante o jogo, conforme a aleatoriedade das minhas tabelas (Hexcrawl), mas você pode aproveitar para criar as coisa à sua maneira também. O importante é que as coisas partam dos jogadores.
Veja bem, não existe mal algum na forma como jogamos nossos jogos favoritos, nem com os nossos cenários de campanha, mas este texto aqui é sobre a minha tentativa de viver algo novo e diferente com meu grupo veterano de fantasia medieval. Sei que pode não acrescentar nada aos seus jogos, mas talvez sirva de inspiração para alguém.
O processo de criação
Sobre a criação coletiva do cenário, o que fiz foi bem simples, mas bem simples mesmo! Dependendo do jogo, a criação de personagens consome o tempo todo da sessão, ou boa parte dela. Por isso eu resolvi criar o cenário em conjunto com os personagens na primeira sessão de jogo.
Primeiro fiz uma tabela com 20 tópicos e pedi que cada jogador rolasse 1d6 para determinar quantos itens iria adicionar ao cenário. Depois, eles se revezaram rolando e criando as coisas conforme a tabela. No final, eles tinham que costurar tudo de forma que ficasse um cenário jogável e interessante para todos.
Eles pareciam se divertir tanto no processo que eu entrei na dança e fiz uma rolagem também, só para participar da brincadeira! Somente após tudo isso que fomos criar os personagens, que já nasceram imersos no cenário, pois todos estavam familiarizados com ele.
Segue a lista de tópicos e logo depois eu falo do que surgiu em nossa mesa.
- Continente perdido lendário
- Continente novo, recém descoberto ou pouco explorado
- Organização criminosa ou vilanesca
- Organização poderosa de qualquer estirpe
- Sociedade secreta conhecida ou não
- Panteão divino e poderes reais do universo
- Religiões verdadeiras ou falsas
- Raças conhecidas, amistosas ou não
- Outras dimensões e cosmologia
- Personagens famosos, vivos ou mortos, reais ou não
- Monstro poderoso de lendas ou verdadeiro
- Grande guerra e evento político importante
- Nação Maligna ou sinistra
- Nação mitológica que não existe mais
- Nação mística ou exótica
- Nação rica e poderosa
- Segredos antigos do mundo e povos
- Sobre Magia e itens mágicos
- Politica, religião e poderes seculares
- Grande evento que divide o calendário em antes e depois.
Entenda que esta lista pode mudar conforme a vontade do freguês e que isso é apenas uma ideia. Recomendo que o grupo esteja de acordo sobre o estilo da campanha e o tipo de cenário, antes de iniciarem o processo. No meu caso, escolhemos um mundo Dark Fantasy tipo o anime Berserk.
Embora eu não possa dizer que criamos uma obra prima de extrema criatividade e originalidade, posso dizer que fiquei feliz por ter visto todo mundo tão empolgado e empenhado no processo criativo. Confere ai o que meu grupo criou na primeira sessão da campanha em linhas gerais:
Um mundo de fantasia sombria, baseado na Europa gótica e na idade das trevas.Um lugar severo onde as únicas raças civilizadas são os humanos e a horda bestial de goblinóides. Um mundo decadente cuja história foi dividida em duas partes, uma antes e outra depois do evento conhecido como a chegada dos novos deuses, entidades antropomórficas adoradas pela Imaculada Igreja Trina, cujos sacerdotes perseguem os conjuradores, destroem todos os artefatos mágicos e propagam a fé do grande Pontífice.
Diante de bestas misteriosas e maldições ancestrais, o mundo se tornou um lugar de muita superstição, onde a fé não é um refúgio seguro, pois a maior religião do mundo é uma farsa total e as pessoas estão largadas à própria sorte! É verdade, os novos deuses são uma grande farsa da igreja e o único e verdadeiro Deus que existe caminha anônimo pela face da terra. Como ninguém suspeita disso, a Igreja cresce em poder cada vez mais.
Além dos farsantes da igreja, muitos cultistas adoram, às escondidas , os grandes antigos, como Dagon e Cthulhu, enquanto rezam nas igrejas e deliram nas orgias da corte. Sacrifícios nefastos, rituais profanos, maldade e blasfêmia acompanham os cultistas e praticantes de magia negra, pois a magia é sinistra, além do alcance dos mortais e requer contato com forças incompreensíveis como os Senhores do Caos, principados e potestades extraplanares.
Por fim, lendas antigas falam de dois grandes perigos! Um continente amaldiçoado onde o sol não brilha e um lorde imortal reina absoluto sobre mortos-vivos e um poderoso lagarto gigante, criado antes da chegada dos novos deuses, para ser o carrasco da humanidade pecadora, pois é claro que os jogadores não deixariam o Tarrasque de fora dessa bagunça toda!
E ai! O que me diz? Vamos tentar?
Já fez algo assim antes? Então compartilha com a gente!
Fala tu, que eu to cansado….
PEP
19/10/2017 at 7:45 pm
muito bom! na proxima vou dar essa ideia. B|
19/10/2017 at 8:15 pm
Cara, faz isso sim! Na verdade vc pode até fazer isso no meio do jogo. Tipo, o mestre fala “vc estão vendo um grupo de soldados vindo na direção de vocês e um deles te abraça e começa a chorar” ai vc pede pro jogador explicar pq isso!!!! Assim, eles podem ir experimentando essa criação coletiva. Nem falo de narração compartilhada (adoro!), mas de apenas dar mais lugar pra criatividade dos jogadores se expressar fora dos limites de ação do personagem.