Apesar de sermos todos RPGistas temos gostos bem diferentes sobre os jogos e isso é bom! Acabamos tendo vários produtos diferentes no mercado e o o hobby fica mais inclusivo, tendo espaço pra todas as tribos. Entretanto, eu percebo um comportamento que pode ser um pouco ruim para o amadurecimento do mestre ou narrador, que é a fixação ou a limitação quanto aos sistemas, temáticas e estilos de jogo. Eu sou da escola véia e fissurado em fantasia medieval, mas se tem uma coisa que me fez amadurecer como mestre e narrador foi justamente o contato com outros temas, sistemas e tribos de jogadores.
E meu post hoje é sobre 3 benefícios que você pode ter ao abandonar sua zona de conforto.
1 – Explorar outros pontos do seu jogo
Antes de falar da minha atual experiência sobre isso, abro um parentese para falar sobre um dos meus maiores problemas atualmente: Falta de tempo para RPG. Na verdade, estou com pouco tempo para tudo! É o trabalho me consumindo, o desenvolvimento de jogos eletrônicos sugando meus domingos, Oriental Dragon comendo meu tempo pelas beiradas e isso tudo sem falar que eu sou casado e ainda tenho esta Guilda Maravilhosa para tocar.
Por conta disso, tenho encontrado dificuldade em jogar RPG, mas principalmente em preparar aventuras de fantasia medieval. Nivelar os encontros com monstros, projetar masmorras consistentes, bolar armadilhas coerentes, fazer fichas de NPCs e criar novos monstros estava sugando de uma a duas semanas do meu tempo, para me proporcionar apenas uma tarde de jogatina quinzenal. Veja bem, eu adoro jogar RPG, mas a troca não estava sendo muito justa para mim e por isso decidi arriscar algo novo, ou melhor, algo velho…..Jogar uma aventura Hexcrawl com uma pegada Sand Box!
É aqui que fecho o parêntese e digo que a mera mudança no modo de conduzir o jogo já quebra a mesmice totalmente. Mudar a pegada na narrativa, usar técnicas diferentes para conduzir o jogo ou direcionar a atenção do grupo para aspectos negligenciados do jogo pode proporcionar outra experiência pra todos na mesa e isso é muito válido.
Use mais aquelas regras doidas de perseguição de carro, de contra-mágica, combate em massa, gestão de fortalezas, romance ou insanidade. Seja como for, o seu jogo talvez tenha pontos inexplorados por você, tanto no contexto das regras como no contexto da narrativa, então abrace o seu jogo por completo.
2 – Expandir a visão do Mestre
O sistema de regras é um caminho rápido para sair da Zona de Conforto, por isso eu acho muito proveitoso experimentar outros jogos, mesmo que sejam One Shoots. Sabe aqueles livros todos que compramos e nunca tiramos da estante? Jogue todos eles! Cada um tem uma proposta diferente e a simples leitura pode abrir seus olhos para um monte de coisas legais, mas nada se compara com a experiência de jogar o jogo.
Eu li Savage Worlds e achei “ok”, mas depois que joguei pude perceber o potencial de divertimento do jogo em outra perspectiva. Assim foi com o sistema de magia de Bárbaros de Lemuria (que ganhará o Brasil ano que vem!!!!), o combate de O Um anel e tudo em Retro Phaze. Compre pencas de jogos e leia-os todos, mas jogue-os também. Eu to para morrer, pois li duas vezes o Dungeon World e não consegui ver nada de mais, ou melhor, não achei tudo isso que o povo diz na internet, mas tenho certeza que só vou ter uma opinião fundamentada quando jogar de fato o jogo (Alguém chama eu!!!!).
Eu sei que temos jogos favoritos e as vezes o grupo é resistente à mudanças, mas conversa com a galera. Diz que depois vocês retornam àquela campanha de 30 anos de duração e tal. Eu mesmo confesso que não importa o que eu jogue, sempre acabamos voltando pra boa e velha fantasia medieval movida a dados de 20 lados, mas não tenho como negar como minha forma de narrar e mestrar mudou depois do meu contato com jogos como Marvel Heroic RPG, Barbaros de Lemúria, Shotgun Diaries e o meu jogo mais amado, idolatrado, salve e salve Blood & Honor.
3 – Anciãos parecem novatos novamente!
Lembro que quando joguei DCC pela primeira vez, fiquei todo perdido com aqueles dados estranhos. Que bizarro! Dados com 7, 14, 16, 24 e 26 lados! No início achei estranho, mas depois me dei conta de que eles estavam ali para me fazer sentir novamente como um iniciante em RPG. Pois é, eu lembro até hoje quando vi um d20 pela primeira vez e foi assim que me senti jogando DCC!
Sair da zona de conforto pode resgatar aquela sensação do inicio de nossa jornada no RPG, onde tudo era novo, estranho e a cada sessão fazíamos uma descoberta!
É por isso que eu escrevi um artigo para falar do impacto que a descrição de um monstro pode ter nos jogadores e também é por isso que nosso vampirinho hippie vem se dedicando na coluna Biologia Fantástica. Entendemos que aquele espanto com coisas novas e o encontro com o inusitado é bom para o jogo, pois até os jogadores veteranos ficam com o fôlego renovado e a adrenalina correndo solta!
O bom é que trazer isso para o jogo sem precisar mudar coisas tão drásticas, como os dados, o gênero e as regras. Então, mesmo se você for um RPGista de um RPG só, ainda pode sair da zona de conforto e experimentar coisas novas, dentro do seu jogo amado.
Poderia citar outros benefícios, mas acho que 3 é um bom número e ainda quero relatar minha experiência recente
Que tal uma campanha Sand box, hexcrawl, com criação de cenário compartilhada e um sistema de regras novo?
Então esta foi a pergunta que fiz para meus jogadores na primeira sessão da minha nova campanha, Nova Era, um jogo de fantasia sombria com alta mortalidade. Causou estranheza no início, mas eu queria sair da zona de conforto em termos de fantasia medieval, por que é o gênero que queríamos jogar, mas sem todas aquelas aventuras épicas, vilões destruidores de mundos e grupo de “chosen ones”.
Foi assim então que eu resolvi fazer tudo diferente, levando todo mundo comigo e um bom e velho d20! Desapeguei do cenário de campanha e deixei por conta dos jogadores, depois mudei o gênero de fantasia que jogamos para algo mais sombrio e mortífero e o estilo Hexcrawl deixou as coisas mais randômicas e fora do controle de qualquer um.
Também decidi mudar o sistema de jogo. Mesmo namorando com o EA&FS, AFF e BoL, resolvi, eu mesmo, fazer um sistema caseiro! Tá, isso consumiria parte do me tempo livre, que já é pouco, mas quanto tempo eu não fazia isso? Desde Bruxos e Bárbaros eu acho. Então seria um exercício legal para mim e serviria para testar como anda a minha criatividade pra este tipo de coisa. Foi divertido e acabou com a mesmice.
Criar um joguinho de fantasia sombria mortal com regras leves foi terapêutico para mim!
Na verdade eu criei muito pouco em termos de regras, pois fui retalhando os sistemas que eu mais curto, chupinhando ideias daqui e da li, amarrando tudo e inventando umas tretas novas (um dia falo mais sobre). Isso já tirou TODO MUNDO da zona de conforto, tanto eu quanto os jogadores! Arriscado? Pode ser, mas e dai? A ideia é rolar os dados, comer uns petiscos e se divertir contando histórias como antigamente.
Então, foi assim que finalmente arranquei as classes de personagem do D&D e a magia Vanciana que odeio (sacrilégio?), quebrando os esteriótipos tão enraizados em nossas aventuras de fantasia medieval. Assim, nossos personagens seriam construídos free form, com muitas opções doidas e aleatoriedade, dando espaço para a customização mecânica sem mergulhar em uma matemática 100% focada em combos. No final, tivemos alguns personagens que dificilmente veríamos como personagens de nivel 1 de D&D e um sisteminha simples que ajudaria a resolver meu problema com preparação de aventuras!
E qual foi o resultado disso tudo?
Bom, ainda estamos iniciando a campanha né! Agora, apesar de ter sido bem legal ver os jogadores veteranos se divertindo na criação coletiva do cenário, eu digo que o que mais curti foi o entusiamos dos jogadores novatos ao criarem seus personagens! Nada melhor para um dinossauro do RPG do que ver novos jogadores mergulhando nas águas da fantasia e absorvendo a atmosfera criativa que o hobby carrega!
Se essas mudanças todas vão render um jogo bom, realmente eu não sei, as duas primeiras sessões foram maravilhosas e eu creio que toda a campanha será uma experiência bem legal para todos! E é por essas e outras que eu recomendo que você tente renovar as coisas e sair um pouco da sua zona de conforto também.
Talvez você não precise trocar os dados, o sistema nem o estilo do jogo, mas com certeza existe algo que você tem curiosidade de por em mesa, mas nunca fez. Mete a cara e vê o que rola! Se der ruim, anota a XP na sua ficha e volta ao porto seguro.
O que me diz? Vamos tentar?
Se você já fez algo assim antes compartilha com a gente!
Fala tu, que eu to cansado….
PEP
23/01/2018 at 3:36 pm
Excelentes dicas PEP! Como tudo na vida, ter conhecimento e experiências diversas torna o jogo muito mais rico.
23/01/2018 at 5:05 pm
Valeu Albério…. é isso ai mesmo