Um jeito divertido de descobrir o que aconteceu no “capítulo anterior”.
Não é segredo pra ninguém o quanto eu curto as abordagens de jogos que concedem mais liberdade criativa aos jogadores. Jogos de narração compartilhada me ensinaram que deixar os jogadores sentirem a sensação de serem mestres por um momento é bem legal. Eu ate escrevi uma regra caseira onde temos o cenário criado pelos jogadores.
Hoje eu venho compartilhar uma experiência nova que tive numa mesa online, a criação das “cenas do capitulo anterior”.
O clichê da taverna
Iniciar aventuras em uma taverna é bem clichê e aposto que todo mundo já se valeu disso. Mas o que o grupo fazia antes de entrar na taverna? Qual o motivo deles estarem justamente nesta cidade e bem neste momento? Quais histórias eles tem para contar? Bom, para alguns isso se resolve com o background dos personagens, e já debatemos sobre backgrounds aqui e aqui (ótimos posts da Mônica), mas eu não queria algo tão intimo e pessoal, nem que datasse de um passado distante. Eu queria algo recente
Eu queria era saber os acontecimentos recentes da vida dos personagens para conectar com o inicio da próxima aventura. Para tanto eu resolvi fazer um mini-game com eles. Iriamos rolar uns dados e eles me dariam insumos para produzir um Background breve da última aventura deles. É mais ou menos como acontece quando o narrador de um seriado diz “No capítulo anterior”….
Tabelas iradas & histórias malucas
No jogo Espadas Afiadas e Feitiços Sinistros nós encontramos uma tabela muito interessante que nos permite criar Títulos de aventuras de espada e feitiçaria. Eu sempre quis usar, mas o gerador de aventuras do livro é tão bom que da pena de não usar. Mas vamos lá! Para gerar o título da aventura você rola o dado para descobrir sua estrutura e depois rola uns d100 para preencher essa estrutura.
Digamos que você obtenha uma estrutura composta por Objeto + Pessoa + Localidade, dai rola 3d100 e obtém algo como A Adaga do Ciclope das Estrelas.
Voltando ao ponto, eu fiz os jogadores rolarem os d100 e obtivemos o título da suposta última aventura do grupo, a saber, “A igreja do alienígena canibal”. Ok! Pegamos o título, mas isso não bastava, precisávamos de mais coisas. então eu fiz uma pergunta para cada jogador, baseado no título sorteado. Eu queria algumas respostas para construir uma colcha de retalhos que fizesse sentido e fosse legal.
As quatro perguntas que eu fiz foram coisas:
1) O que era o tesouro?
2) Que fim levou o ET?
3) Qual PJ fez uma merda grande?
4) Como perderam o tesouro?
Então eles falaram que o tesouro era a coroa de uma princesa; que o ET foi embora; que o personagem ganancioso é quem fez merda (uso uma tabela de traços de personalidade pra ajudar no roleplay) e que eles foram enganados ao tentar vender a coroa.
Aparando as arestas
Com as respostas deles eu já fui improvisando uma introdução e dando corpo a um resumo de aventura.
Ora, eu disse então que uma nave espacial em forma de obelisco caiu na cidade, angariou adoradores e causou muito reboliço, embora não se manifestasse. Um mês passou e a princesa veio conhecer a torre sagrada, mas a torre se abriu e a sequestrou. O rei irou-se e lançou uma mega recompensa por seu resgate. Varios aventureiros vieram das cidades próximas e invadiram a nave em busca da princesa, mas nenhum voltou!
Nessa nave o grupo encontrou a princesa na mesa de cirurgia dos ETs e suas joias largadas num canto. Teriam o elemento surpresa se não fosse pela ganancia de um dos personagens, que já se adiantou para roubar os itens da princesa. Houve uma confusão e durante o tumulto um deles acabou ligando o motor da nave sem querer. No final a nave voltou pro espaço contra os planos dos ETs e a princesa foi junto! O grupo escapou com a coroa, mas o ajudante do ladino os traiu e os delatou para o rei.
Nada como a taverna
Sai improvisando dai e a aventura ficou bem doida. Eles foram perseguidos por cavaleiros, depois se esconderam pelas vilas do interior do pais, encontraram a ex-namorada de um deles, que vivia mal por ter levado um golpe do jogador no passado e por fim, acabaram rumando para o deserto. Nas areias quentes encontraram uma cidade-estado cheia de bandidos, arena de lutas, caravanas, e um dragão de estimação do governante. Ali, nesta cidade-estado doida, rolou a famigerada cena da taverna… mas acho que deu pra notar a diferença. Era a primeira sessão com esse grupo, mas na introdução eles já se apegaram as loucas aventuras que viveram ate aqui e aprenderam a aproveitar a paz da taverna.
Veja bem, eu narrei a fuga deles e toda a jornada ate a nova cidade e sua taverna. Foi bem diferente, mas bastante legal. Na verdade, nunca foi tão legal entrar numa taverna depois de uma aventura.
Termino por aqui, recomendo que você crie coisas assim. Não precisa seguir meu modelo a risca, mas ouse inovar e tocar o louco. Deixa a história se desdobrar a partir de um ponto caótico fora do seu controle. Mesmo que tudo tenha sido só um Background de grupo, já me rendeu alguns npcs chave, duas cidades, um inimigo alien e uma princesa em apuros.
A próxima sessão iniciaremos a aventura “O escudo da praia maquiavélica”, onde eu irei amarrar essas arestas e compor uma aventura nova. Vejamos que zica que vai dar!
Abração a todos!
PEP
08/09/2018 at 4:42 pm
Como sempre ótima postagem 😉