Curvem-se, pois sou o Imperador dos Sonhos. Coroei-me com sóis de milhares de cores.
Essa postagem é inspirada nos jogos Espadas Afiadas & Feitiços Sinistros, Dungeon Crawl Classics, Companhias Mercenárias de Belmonte e Blade of the Iron Throne.
Espada & Feitiçaria é um subgênero da fantasia que tem suas raízes em contos antigos. Sua popularidade aumentou e diminuiu ao longo de décadas, assim como a qualidade e fundamentos do que era publicado. Aqui vai uma seleção de autores e livros e que devem ser levados em consideração para compreender de forma acurada como levar esse gênero à mesa, bem como caçar inspiração.
1. Precursores
Não são exatamente títulos que mereçam o rótulo de Espada & Feitiçaria, mas possuem elementos fortes do gênero.
Epopéia de Gilgamesh. Anônimo. 2000 AC
Ilíada e Odisséia. Homero. 750 AC.
Beowulf. Anônimo. 900 AC.
A Canção dos Nibelungos. Anônimo. 1200 AD.
2. Pioneiros
John Carter de Marte e Tarzan. Edgar Rice Burroughs. 1875 – 1950.
Deuses de Pegana, Tempo e Os Deuses, A Espada de Welleran e outros. Lord Dunsany. 1878 – 1957.
Tros de Samothrace. Talbot Mundy. 1879 – 1940.
Marchando nas Areias. Durandal. Nur Mahal. O Mar dos Corvos. O Crânio de Shizard Mir e outros.
Harold Lamb. 1892 – 1962.
3. Fundadores
Aqui vamos citar prioritariamente autores, pois seus trabalhos foram vastos e possuem diversas facetas.
Clark Ashton Smith. 1893 – 1961. Zothique. Empério dos Necromantes. O Conto de Satampra Zeiros. A Ilha dos Torturadores. Xeethra. Necromancia em Naat. Outros.
Manly Wade Wellman. 1903 – 1986. Sojjar de Titan. A Invasão Solar. Gigantes da Eternidade. Ilha no Céu. Hok vai a Atlantis. Outros.
Robert E. Howard. 1906 – 1936. Conan. Kull. Solomon Kane. Bran Mak Morn. Black Vulmea. El Borak. Outros. A bíblia da Espada & Feitiçaria.
Fritz Leiber. 1910 – 1992. Lankhmar.
Catherine Lucille Moore. 1911 – 1987. Jirel de Joiry.
Henry Kuttner. 1915 – 1958. Elak de Atlântida.
4. Revisionistas
Autores que tomaram como base os trabalhos sacros do gênero e que criaram suas próprias produções tomando como base estes trabalhos. Alguns acabam por imitar alguns autores sem agregar muito a inovação de personagens, todavia as narrativas são boas no geral.
Norvell Page. 1904 – 1961. Filhos do Deus Urso. Ventos da Chama.
Lyon Sprague de Camp. 1907 – 2000. A Saga Pusadiana.
Gardner Fox. 1911 – 1986. Kothar. Kyrik.
Philip José Farmer. 1918 – 2009. Hadon da Antiga Opar e Vôo para Opar.
David Mason. 1924 – 1974. O Crânio do Feiticeiro.
Poul Anderson. 1926 – 2001. A Espada Quebrada. A Saga de Hrolf Kraki. Guerra dos Deuses. Temos aqui literatura que influenciou a criação do RPG de fantasia original.
Lin Carter. 1930 – 1988. Thongor de Lemuria.
Andrew J. Offutt. Nascido em 1934. Meu Senhor Bárbaro.
Michael Crichton. 1942 – 2008. Devoradores dos Mortos.
Glen Cook. Nascido em 1944. A Companhia Negra. Top Rogerinho.
David Drake. Nascido em 1945. Vettius. O Senhor Dragão. Assassino.
Keith Taylor. Nascido em 1946. Felimid Mac Fal. A Torre da Morte. Quandos os Pássaros da Morte Voam.
Robert Holdstock. 1948 – 2009. Corvo: Dama da Espada do Caos.
David C. Smith. Nascido em 1952. Para a Bruxa das Índias. Oron. Oron e o Feiticeiro das Sombras.
Tim Lukeman. Nascido em 1954. Rajan e Koren.
John C. Hocking. Nascido em 1960. Conan e A Lótus Esmeralda.
Howard Andrew Jones. Nascido por volta de 1970. As Crônicas de Espada e Areia.
5. Defensores
Buscaram suas raízes no material original para revisitar o gênero sem cair no pastache.
Brian Lumley. 1937. Egito: Khai de Khem.
Richard L. Tierney. 1936. Red Sonja. Simão de Gitta.
Michael Moorcock. 1939. Elric de Melniboné. Ao lado do Howard, é um dos nomes mais fortes do gênero.
Michael Shea. 1943. Nifft O Magro.
Karl Edward Wagner. 1945 – 1994. Conan e a Estrada dos Reis. Legiões das Sombras. Kane.
Charles Saunders. 1946. Imaro. Na Busca por Cush. A Trilha de Bohu.
Tanith Lee. 1947. Contos da Terra Plana. Volkhavaar. Matar os Mortos. Cyrion.
David Gemmell. 1948 – 2006. Lenda. As Primeiras Crônicas de Druss, O Lendário. A Lenda dos Caminhante da Morte.
Jessica Amanda Salmonson. 1950. Tomoe Gozen. A Naginata de Ouro. Guerreiro dos Mil Santuários.
Darrell Schweitzer. 1952. A Ilha Branca. Somos Todos Lendas.
Deixem de preguiça e leiam mais. Essas séries e filmes estão cozinhando o senso de fantasia de vocês.
08/07/2019 at 2:48 pm
Parabéns pelo Post, uma boa lista para ser lida e apreciada.
Poderia em outros posts falar individualmente de alguns deles.
09/07/2019 at 9:03 am
Aviso de textão com alguns adendos e críticas. O conteúdo da lista é muito bom, evidentemente, mas não entendi pra que dividir os autores da forma que tu fez. Isso só acarreta problemas ao teu texto, como, por exemplo, dizer que o Poul Anderson faz parte de um grupo de “autores que tomaram como base os trabalhos sacros do gênero e que criaram suas próprias produções tomando como base estes trabalhos.” De certa forma, todos os autores fazem isso, não? Levando em consideração que tu começa com Homero, Gilgamesh e Nibelungo. Generalização desnecessária. E tu ainda complementa “Alguns acabam por imitar alguns autores sem agregar muito a inovação de personagens, todavia as narrativas são boas no geral.” Talvez o Anderson não se encaixe no teu “alguns” que imitaram outros autores, mas é inegável a inovação em seus personagens, coisa que rendeu elogios muitos do Michael Moorcock. Falando em Moorcock, seguindo tua lógica de divisão, o Anderson se encaixa muito mais entre os “defensores” do que entre os “revisionistas”. Veja bem: “buscaram suas raízes no material original para revisitar o gênero sem cair no pastache.” Poul Anderson faz exatamente isso em The Broken Sword. Busca raízes em mitos nórdicos como temática e a aventura é a mais pura espada e feitiçaria, sem jamais cair no pastiche*.
Gleen Cook é outro que sofre com o mesmo problema da sua generalização, exatamente pelo mesmo motivo do Anderson. Quem leu sabe as revoluções que o Cook trouxe (bastante influenciado pelo Karl Edward Wagner, é verdade), especialmente na solidificação do que hoje chamamos de dark fantasy. A dark fantasy tem suas raízes no material original e revisa o gênero, especialmente quebrando com conceitos de heroísmo, e emprestando influências literárias outras, como da literatura gótica e da Bíblia.
Além de tudo isso, tu cita as obras com títulos traduzidos, o que, na minha opinião, é uma faca de dois gumes. Por um lado é bom, porque nem todo mundo entende inglês. Entretanto, boa parte dessas obras nunca foi traduzida mesmo, então, de que adianta citar elas em português se não vão conseguir ler? Sei lá, acho que saber datas e nomes não é suficiente pra quem realmente gosta de ler literatura fantástica. Tu podia ter simplesmente colocado os nomes em inglês do que não foi traduzido ainda, e em português o que temos tradução, como Conan, Companhia Negra, alguns do Elric e por aí vai.
Outra coisa: se tu pretende fazer um apanhado ligeiramente cronológico na tua lista, por ter começado com Homero e companhia, acho interessante dividi-los (já que tu propôs uma divisão), também, até porque são quase dois mil anos que separam o poema Beowulf dos textos do grego, por exemplo. Além disso, é difícil citar essas obras como influências. O maior problema é que tu não define bem o que entende como espada e feitiçaria no começo do texto. Vi que há outro post no teu site onde tu tenta definir o termo, mas quem começa pela lista pode ficar perdido. Ainda mais pra entender o começo dela. As obras que citaste podem ser, de fato, influências para a literatura de ficção de espada e feitiçaria, mas elas tem poucos, quase nenhum ou apresentam de forma muito restritiva os elementos de um conto de espada e feitiçaria. Pra mim, O Reino Sombrio, do Howard, é o primeiro conto do gênero. Logo, obras para serem caracterizadas como espada e feitiçaria devem se incluir nas características criadas por Howard. Não é porque Led Zeppelin influenciou o heavy metal que o Led Zeppelin é uma banda de heavy metal, entende? O conceito de influencia é bem perigoso, pois pode causar interpretações irreais do que foi escrito e dos autores. Por exemplo, qualquer um que lê Lovecraft vai ver que ele foi influenciado pelo Arthur Machen, entretanto, Lovecraft descobriu o trabalho de Machen tardiamente, quando já havia publicado grandes trabalhos. Portanto, entendemos que a ficção de Lovecraft tem influencia de Machen, mas não em seu todo e nem ela é definidora para sua produção literária. Robert E. Howard certamente leu Homero, mas em até que ponto isso foi uma influência para sua ficção? E as outras obras que não temos como saber se ele leu ou foi influenciado por elas? Ah, e As Mil e uma Noites talvez seja o livro mais influente para a primeira leva de autores da Weird Tales e similares, mais que todos que tu citou.
E seguindo o que eu disse acima, tem muita coisa aí que é pura ficção fantástica e não espada e feitiçaria. É comum quando gostamos da coisa querer enfiar um monte de livro bom no balaio, pra reforçar aquela ideia de que alta fantasia não presta e espada e feitiçaria é bom. Mas calma lá, Edgar Rice Burroughs não escreveu espada e feitiçaria. Influenciou o Howard? Claro. Mas não escreveu nada de espada e feitiçaria. Ashton Smith, mesma coisa, apesar deste já se aproximar muito mais do gênero. Sei que teu objetivo foi expor as origens literárias do gênero, mas é falho justamente porque tu se limita em quatro obras antigas como origens e depois lista uma tonelada de livros, alguns de espada e feitiçaria, outros que nem beiram. Tem coisa aí que é pura fantasia, ou alta fantasia, ou só aventura.
Falando nisso, faltou autores, evidentemente. Toda lista vai faltar algo. Robert Jordan é um grande nome que tu ignora. Ele escreveu uma série de livros de alta fantasia, The Wheel of Sun, mas, antes disso, escrevia pastiches de Conan que são, sim, espada e feitiçaria, e contribuíram muito para a difusão do gênero e do personagem nos anos oitenta. Outro autor digno de menção, apesar dele ter escrito apenas um conto em toda sua carreira que seja de espada e feitiçaria, é o Thomas Ligotti. Ele é mais famoso por sua literatura de horror contemporânea, genial, mas tem um conto chamado Masquerade of a Dead Sword: A Tragedy, que é uma grande obra de espada e feitiçaria e deve frequentar mais listas como a que tu se propôs a fazer. Já que é pra citar as raízes, faltou, também, The Worm Ouroboros, do E. R. Eddison, um romance de fantasia heroica de 1922, que influenciou a geração de ouro, como Howard e Leiber, e ainda a próxima geração, de Anderson, Moorcock e outros.
Ademais, salvo minhas implicâncias, parabéns pela iniciativa.
16/07/2019 at 7:27 am
Caraca, que textão da porra! Parabéns fez pensar bastante.