Não sei se é só nas mesas em que eu joguei, mas não é raro que haja um clérigo ou paladino do deus da guerra em todo grupo que eu jogo. Não sei de onde vem essa predileção, se é que não é apenas mera coincidência, mas hoje eu queria dedicar este post para sugerir novos deuses da guerra para evitar mais do mesmo. Vamos abordar seus relacionamentos, crendices populares e o impacto deles na vida mortal.

Eu parti de 3 pontos que gosto muito e acho que são desvalorizados no rpg:

  1. Panteões são regionais e não universais. Cada povo, nação ou região possui os seus deuses e os levam para suas guerras, cultura e cotidiano.
  2. Os laços de família conflituosos, promíscuos e trágicos que existem entre os deuses.
  3. Os mortais adoram o panteão inteiro e não apenas um deus dele. A devoção e serviço maior a um deus não exclui a adoração aos outros.

Confira 3 deuses que dividem a regência sobre a guerra e a adoração dos clérigos e paladinos de um reino.

Os 3 irmãos de sangue e armas

Existem três deuses da guerra que são irmãos e um quarto cujo o nome é anátema. Arkhemon, Nestia e Mhalrius compartilham uma relação próxima, amigável e conflituosa. Os 3 possuem visões diferentes sobre a existência, a guerra e como cumprir o seu propósito no mundo.

Arkhemon é conhecido como o gritador caolho, um deus caótico que valoriza a coragem e a determinação em combate; Nestia é a dama da guerra, uma deusa ordeira que prefere a beleza da justiça à feiura da vingança e Mhalrius é o glorioso conquistador, um deus imparcial que busca o poder e a glória a qualquer custo. Juntos, eles dividem a regência sobre a guerra e a adoração dos mortais que vivem sob sua influência.

Apesar de suas diferenças, amam e protegem seus seguidores, mas cada um tem uma visão sobre como isso deve ser feito.

Divergências e conflitos filosóficos

Arkhemon acredita que a violência e a coragem são as únicas coisas que importam quando um conflito surge, enquanto Nestia prefere a paz e a diplomacia antes de apelar à força. Quando é preciso decidir como lidar com os conflitos internos do panteão os dois sempre brigam.

Nestia acredita na beleza da justiça, enquanto Mhalrius valoriza o poder e a ambição em detrimento da justiça. Isso cria tensões entre eles, especialmente quando o glorioso tenta usar a guerra para se tornar mais poderoso, enquanto Nestia tenta encontrar soluções mais pacíficas.

Arkhemon valoriza a lealdade e a honra na batalha, enquanto Mhalrius se importa mais com a vitória a qualquer preço. Por isso se desentendem sempre que Mhalrius tenta usar meios sujos, artimanhas e covardia para alcançar seus objetivos.

Esses conflitos repercutem entre os adoradores mortais dos 3 deuses na terra, gerando conflito e debates teológicos.

Representação de Arkhemon, o gritador caolho

Lendas e curiosidades

Uma das histórias mais famosas é sobre o cetro de crânio de dragão de Arkhemon. A lenda diz que ele amaldiçoou os soldados que tentaram ajuda-lo na batalha no vulcão do dragão. No fim o deus derrotou o monstro com mordidas e pontapés, perdeu um olho e todos os soldados foram transformados em ciclopes reptilianos.

Segundo a lenda, Nestia criou um Cisne de Ouro para proteger Khetull, seu filho mais novo, banido por seus irmãos por ser filho de Apolônidas . Era uma criatura magnífica, com penas de ouro e olhos que brilhavam como estrelas. Muito inteligente e astuto, podia falar com todas as criaturas e cumpriu sua missão com lealdade. Dizem que atua como ajudante dos servos mais fiéis aos preceitos da deusa.

Uma tragédia inesquecível foi a morte de Dalma, a filha mais nova de Mhalrius. Ele era muito protetor com sua família e ficou devastado quando a jovem foi morta por seu irmão Apolônidas, por uma decepção amorosa. Este foi o estopim para a Guerra das guerras e para a mudança eterna no caráter de Mhalrius, que se tornou mais egoísta, insensível e disposto a tudo para vencer.

A guerra das guerras

Apolônidas é o quarto irmão dos deuses da guerra e o mais poderoso do panteão. Segundo a lenda local ele foi o primogênito dos céus e liderou o panteão por infindáveis eras, mas o poder lhe subiu a cabeça, o tédio e a arrogância o levaram a tornar-se lentamente um tirano abusador. Os deuses toleravam seus excessos por medo de sua magia sombria, mas o assassinato de Dalma, pelo simples fato dela não querer se relacionar com ele, foi o seu último ato de vilania.

Mhalrius exigiu vingança, e Apolônidas recusou-se à rendição, retratação e devolução do cadáver de Dalma. A guerra começou, e logo todos os deuses e seres mitológicos se juntaram a um dos lados ou a outro. Estava iniciada a Guerra das guerras, uma batalha sangrenta e brutal que durou sete dias e sete noites e deu origem a uma nova configuração no panteão da região e dizimou milhares de vidas mortais subitamente.

Apolônidas lutou com poder absurdo e covardia, drenando a alma dos mortais através de uma peste que assolou o reino todo rapidamente. No final do sétimo dia ele acabou vencendo Mhalrius em um duelo nas nuvens, mas com a investida de seus irmãos foi derrotado. A partir daquele momento, Mhalrius passou a ser um dos deuses mais temidos e respeitados de todos e a trindade da guerra se consolidava como guardiões do panteão e dos mortais que os seguiam.

Representação de Apolônidas, o deus esquecido

O destino de Apolônidas após a Guerra das Guerras é incerto. Alguns dizem que ele foi banido para o submundo, onde passou a viver em exílio eterno. Outros dizem que ele conseguiu escapar, e agora vive escondido em algum lugar do mundo mortal com seu filho bastardo Khetull. Os sábios afirmam que ainda está vivo e que pode ser fortalecido por orações e sacrifícios. Todos os deuses temem que um dia ele possa retornar em busca de se vingança e por isso riscaram seu nome da história.

A relação com os mortais

Arkhemon costuma descer à Terra para caçar e batalhar com os mortais por puro prazer. Ele é adorado por aqueles que valorizam a coragem e a determinação em batalha, independente de intenções boas ou ruins. Gladiadores, caçadores e guerreiros pedem suas bênçãos constantemente.

Nestia é mais distante dos mortais, preferindo ver de longe toda a violência que se faz na terra. Ela é vista como a orquestradora de toda a boa ação realizada pelos curandeiros andarilhos no período da peste. Ela é adorada por aqueles que valorizam a paz e justiça acima da glória pessoal e do poder. É adorada por paladinos, cavaleiros, eremitas e agentes da lei.

Mhalrius reina sobre o império mortal na Terra, e é adorado por aqueles que valorizam o poder e a glória. Ele é um deus que gosta de estar no comando e costuma descer à Terra para supervisionar seu império, esbaldar-se em banquetes/orgias ou inspirar o exercito na expansão do império contra os povos estrangeiros e seus deuses pagãos.

Curandeiros sem rosto dos tempos da peste

Os sacerdotes do império servem ao panteão como um todo, embora existam templos e orações dedicadas a uma das divindades em específico. No cotidiano o povo adora e reverencia a todos os deuses, buscando suas graças e favores conforme seus aspectos, características e personalidade. E assim o equilíbrio se sustenta nos céus e na terra.

Em epocas tranquilas, o povo ora ao imperador para que a prosperidade se prolongue e a segurança do império perdure para sempre. Caçadores, pescadores e viajantes rogam ao gritador caolho que os protejam dos monstros e perigos dos ermos. Durante situações adversas, perseguições e injustiças clamam pela misericórdia da dama da guerra e seus anjos. Oferendas de alimentos, ouro e canções são entregues nos altares e templos todos os dias, por um povo cuja fé esta firmada em todo o panteão e principalmente na trindade da guerra

Influencia no Cotidiano

A influência dos deuses na vida do império é grande. Além de serem governados pelo próprio imperador-deus, podemos destacar os seguintes pontos:

O Feriado da Vitória: É celebrado todo ano a vitória de Mhalrius na Guerra das Guerras. Os mortais se reúnem para lembrar a glória da vitória e para homenagear o imperador e todos os deuses que lutaram ao seu lado. Durante o feriado, são realizadas competições de combate, desfiles e banquetes. Muitos acreditam que o Feriado da Vitória é um dia em que os deuses olham com mais favor para os mortais, e por isso muitos fazem oferendas e sacrificam animais para agradecer aos deuses.

Hospitalidade sem rosto: Existe um costume no interior onde as pessoas exercem hospitalidade para com desconhecidos e não aceitam pagamentos nem agradecimentos pois “Certamente Nestia esteve neste lugar”. Eles cobrem o rosto com as mãos ao falarem esta frases, em alusão ao que acham que a deusa fez no passado. Este é um costume que surgiu após a Guerra das guerras quando as pessoas afetadas pela peste se sentiam abandonadas pelos deuses (não sabiam da guerra celestial)e curandeiros anônimos surgiam de todos os lados para ajudar os doentes e dar conforto aos que estavam sofrendo. Nestia recebe os créditos por tais feitos, mas ela se recusa a falar disso.

Representação de Nestia, a dama da guerra

Presente do Cisne Dourado: Segundo a crença, o Cisne Dourado é um espírito protetor que vem do mundo dos deuses, enviado por Nestia para ajudar as crianças mal criadas como seu filho a se comportarem melhor. Quando uma criança está se comportando mal, o Cisne Dourado aparece aos seus pais e lhe transmite um pedido. Se a criança acreditar e se comportar bem conforme o pedido do Cisne Dourado receberá um presente no final do ano. Se a criança continuar se comportando mal, o Cisne Dourado nunca mais a ajudará.

continua!?

Apesar dos 3 deuses serem os mais abordados neste post, podemos imaginar que outros deuses existam e até uma hierarquia no panteão com deuses menores e semideuses auxiliando-os a gerenciar seus aspectos. Mas acho que isso fica para os próximos posts….

Digam nos comentários se curtiram a proposta deste mini panteão regional e como você aborda a questão dos deuses em suas mesas.

No próximo post eu trarei mais detalhes para criarmos clérigos, paladinos e servos divinos em jogo!


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