Confira 5 dicas para aproveitar melhor os encontros aleatórios.
Hoje eu quero falar sobre um aspecto da minha campanha Hexcrawl que tem rendido frutos ótimos para nossa história. Algo que vem nos proporcionando ótimos ganchos de aventuras e gerando eventos interessantíssimos…. Encontros aleatórios!
Para quem não sabe, encontro aleatório (em RPG) é um termo técnico para representar as cenas de conflito que surgem aleatoriamente a partir de algum mecanismo do sistema de jogo. Exemplificando, sabe quando você ta jogando e o mestre do jogo rola um dado e diz “Eis que vocês são emboscados por um grupo de Orcs” ?… então, é disso que eu to falando.
Em alguns jogos o conceito se resume a rolar dados numa tabela e descobrir quem irá antagonizar um encontro com os personagens dos jogadores.
Eu preciso disso?
Respondendo honestamente? …. Não! Apesar de minha campanha atual ser toda orientada a viagens e exploração com Hexcrawl, entendo que eles não são realmente necessários.
Eu sempre utilizei encontros aleatórios nos meus jogos por achar que eles quebram uma eventual monotonia e/ou estagnação e demonstram para os jogadores que o cenário de campanha não gira em torno dos personagens deles…. monstros e npcs tem sua própria agenda e merdas acontecem mundo a fora!
Você não precisa usar encontros aleatórios, mas eu acho válido, pois podem agregar algo de valor ao jogo que nem você poderia prever.
Deixando a coisa toda mais legal
Eu já vi muitos colegas falando que os encontros aleatórios são chatos e que atrasam o jogo, mas eu acho que podemos evitar isso de formas bem simples e fluidas. Continue lendo este post se você quiser encontros mais interessantes nos seus jogos, senão pare por aqui e vida que segue…
OK! Você ainda está aqui, entao vamos lá! Vou abordar 5 pontos que acho que merecem sua atenção e no final apresentarei 2 exemplos tirados da minha mesa atual.
1 – Não imite JRPG
Para muitas pessoas os encontros são chatos por não passarem de uma interrupção indesejada no fluxo da história. Algo que o mestre faz para detonar os recursos do grupo antes de inserir os inimigos de verdade. Neste ponto tenho que lhe dizer: Não faça do seu jogo um JRPG de video game onde a cada 10 passos você é obrigado a lutar contra um time de inimigos randômicos. Fazer com que os encontros aleatórios se resumam a combates sem sentido não acrescenta nada ao jogo e a galera terá razão em reclamar.
Não tem jeito, você vai ter que dosar na frequência. Isso é no feeling mesmo, quanto mais aventuras mestrar mais vai pegar o time da coisa.
2 – Naturalidade e liberdade
Ok, você rolou na tabela e já sabe que eles vão encontrar uma quimera diferentona conforme esta house rule, mas vamos pensar na situação. Pode ficar sem graça se você apenas jogar a quimera furiosa no colo do grupo. Talvez o grupo encontre a quimera dormindo, alimentando filhotes, caçando goblins, agonizando envenenada, ou satisfeita da ultima refeição e sem muita inclinação para confronto.
Eu detesto dizer isso, mas por que os encontros precisam ser combates? Eu sei que a culpa não é sua, afinal a maioria dos livros resume o assunto a tabelas de monstros, mas quem disse que um encontro com um monstro precisa ser um combate? Seu papel é apenas apresentar o encontro, se a coisa vai virar um combate ou não deve ser prerrogativa dos jogadores e suas ações. Mesmo que você queira um combate, talvez eles se rendam! Já pensou nisso? Então pare de tentar prever tudo e deixe a coisa fluir mais livre e ao acaso.
Se quiser, faça uma pausa e leia sobre como deixar seus combates menos entediantes…já pode ajudar um pouco!
3 – Não se limite a monstros
Eu sei que é mais fácil abrir o livro dos monstros e sacar uma criatura qualquer pra atacar os jogadores, mas o mundo não é habitado apenas por monstros e muita coisa interessante pode sair das relações civilizadas. Encontrar outros humanos e vivenciar outros eventos pode ser bem interessante, por isso sugiro que não crie tabelas de encontros apenas com monstros.
Pense em encontros com caravanas, acampamentos desconhecidos, peregrinos religiosos, gente perdida e coisas misteriosas. No decorrer da aventura apenas descreva o evento e espere pela reação do grupo. Talvez não façam nada e apenas se afastem, mas você já terá dado um tom mais orgânico ao seu mundo…. eles se move sozinho e a galera preferiu evitá-lo!
Para começar a exercitar a criatividade, baixa este PDF gratuito que tem um monte de tabelas diferentes, com ideias inusitadas!
4 – Planejamento de improviso
Você já se ligou que não é muito maneiro que os encontros sejam apenas intervalos chatos para enfraquecer o grupo e muito menos que se limitem a pura e porradaria com monstros. Você já adicionou eventos interessantes nas suas tabelas e agora encara os encontros com uma postura mais reativa aos jogadores. Pois bem, é hora de dar um passo além e fechar a construção de encontros aleatórios com chave de ouro.
Você precisa contextualizar os encontros para que se encaixem na nossa história como se tivessem sido planejados previamente! Eu sei que isso não da pra inserir numa tabela, então você terá que pegar a manha e exercitar o raciocínio rápido para costurar os dados tirados com o momento presente da aventura.
Então se a galera tá envolvida numa intriga palaciana com os Lannisters, não ficaria mais interessante se aquela emboscada na estrada fosse patrocinada pelo ouro dos Lannisters? E se o evento da “caravana sob ataque” se tratasse de uma emboscada contra nobres Lannisters, o grupo ajudaria ou não? Será que levariam a culpa pelo ato ou será que poderiam travar uma trégua com os Lannister por terem protegido seus familiares? Essas coisas não cabem na tabela, por isso elas devem ser genéricas, para você costurar sua história mais facilmente.
Seja qual for o encontro aleatório, tente inserir algum elemento de conexão com a história da campanha, ou deixe ganchos para aventuras futuras. A galera vai pirar!
5 – Dever de casa
O planejamento de improviso pode ser difícil para algumas pessoas ou talvez você não se sinta muito seguro e tal. Bem, neste caso, minha última dica nos conduz para uma abordagem mais trabalhosa, porém igualmente interessante.
Você poderia montar sua tabela com encontros aleatórios contextualizados ao invés de apenas nomes de monstros ou eventos genéricos. Talvez você prefira criar uma tabela que tenha coisas como “caravana Lannister sendo atacada por selvagens” ao invés de “caravana sob ataque”. Para seguir nesta abordagem você vai ter um trabalho prévio, que pode se resumir a realizar o que eu disse na dica 4, só que sem a pressão do improviso em tempo real.
Isso tira um pouco do caos e da aleatoriedade da coisa, pois você acaba preparando tudo de antemão. Porém, em última instância, ainda teremos a rolagem pra ver qual dos seus eventos acontecerá e com isso mantemos o caráter aleatório do evento. A diferença é que você não planejará o encontro sob o estresse e adrenalina do andamento do jogo, tendo assim mais tempo para matutar algo legal.
Uma lista de eventos elaborados é muito boa pra criar conexões com a história, mas certifique-se de que estes encontros não sejam obrigatórios para o andamento da história.
Finalizando com um exemplo
O que me motivou a escrever este post foi o fato de que na minha última sessão ocorreram 2 eventos aleatórios que conduziram a campanha para rumos que eu sequer imaginava.
No primeiro encontro eu obtive em minhas tabelas um “espião aliado”. Com isso eu narrei que o ladino do grupo notou um cara suspeito na cidade a dias e ao segui-lo descobriu que era um comerciante de outras terras. Dali a cena descambou para um burguês oferecendo um obscuro acordo de tráfico de drogas com o lorde da cidade, que é membro do grupo e 5000 PO entraram nos cofres do grupo, às custas de ações inesperadas.
No segundo encontro eu obtive um encontro duplo, o que me fez rolar 2 vezes nas tabelas. Então o encontro final foi o cruzamento entre “besouros gigantes” com “caravana nobre”. Então eu narrei que, em sua viagem, o grupo avistou uma carruagem nobre sendo atacada pelos besouros. O grupo salvou os nobres, pois eu improvisei que eram de uma casa vassala a casa do jogador que é lorde local. No final das contas, eles acabaram salvando a filha e herdeira da tal casa nobre, participaram de um banquete de agradecimento que culminou na ordenação do guerreiro do grupo a cavaleiro e lançaram sementes de intriga palaciana.
Agora o grupo está em outra cidade, participando do batizado de um bebe nobre, com promessas de alianças com traficantes e nobres, além de muitas outras possibilidades que foram abertas justamente por causa de encontros aleatórios. Ficou tudo bem amarradinho com o contexto da aventura e apesar da grande revira-volta, tudo fez sentido com a história!
o planejado pra aventura, inicialmente era apenas explorar uma dungeon, o que eu facilmente deixei de lado por conta disso tudo….afinal ficou bem mais irado do que eu poderia planejar!
Por hoje é só pessoal. Espero que isso possa ajudá-los de alguma forma e que seus encontros aleatórios fiquem cada vez mais maneiros e indistinguíveis de encontros planejados.
Deixa ai nos comentários seu relato de encontros aleatório inesquecível.
PEP
13/05/2018 at 11:41 pm
Como sempre um bom texto, estão fazendo um ótimo trabalho por aqui espero que continuem. Eu particularmente nunca usei encontros aleatórios eu já programo todos os eventos da história e os inimigos que irão aparecer, tento coloca-los de uma forma racional do pq eles estão ali e não simplesmente brotaram devido um lance de dados, mas lógico, os personagens são livres para decidirem o que fazer não forço para que enfrentem os desafios que proponho, por exemplo: em uma aventura eles estavam transportando livros medicinais em uma mula para uma vila e uma tempestade estava se aproximando, eles encontraram um caçador na floresta que deu algumas informações sobre a vila que eles estavam indo e a princípio ele ia falar de uma caverna misteriosa que tinha na redondeza que não seria sábio que eles se aproximassem dela, mas eu tinha elaborado uma caverna tão bacana que fiquei com dó de desperdiça-la, dai que o caçador guiou eles até a caverna para se abrigarem da chuva, apenas um dos personagens não foi para a caverna e justamente esse personagem tinha a desvantagem de inimigo, como ele ficou sozinho os inimigos dele apareceram ele ficou com medo e fugiu e abandonou a mula, após os outros saírem da caverna perceberam que tinham perdido a mula eu poderia ter feito que eles achavam ela andando por ali pra não complicar as coisas, mas fiz com que eles encontrassem os rastros dela e no final dos rastros encontraram um forte ocupado por goblins, mas os goblins eram sobreviventes lutando por um lugar ao sol, eles já estavam elaborando planos de como invadir o forte, mas dei dicas para eles pra mostrar que poderiam tentar negociar, enfim, eles negociaram com o líder dos goblins que pediu para que eles fizessem um trabalho para eles e dai que foi virando uma bola de neve, o bom do rpg é isso, nada sai como o esperado mesmo td sendo preparado ou deixando ao acaso de um encontro aleatório…
13/05/2018 at 11:52 pm
Valeu Gemaba, estamos trabalhando pra fazer um material bacanudo…. O seu relato do “dó de desperdiçar a caverna” me lembrou do famigerado caso do Ogro Quântico.
14/05/2018 at 6:39 pm
Opa, manda uma previa ai…
14/05/2018 at 9:18 am
Sempre conteúdos interessantes!
Obrigado!
14/05/2018 at 9:55 am
Muito bom, comecei a mestrar recentemente e quando estava estudando tomei o cuidado de fazer esses passos.
Uso a tabela “pré-programada” com contextos da história (item 5), mas caso vejo que algo não seja interessante no momento parto pro improviso. Não dá pra ficar refém de tabela AHEUHAEIAE
Nice post, obg!
14/05/2018 at 7:13 pm
Você usa as tabelas do pdf linkado?
Sinceramente eu não faço idéia de como criar tabelas de encontro. A teoria de como montar a tabela, não só sobre escolher os monstros da região, mas também a porcentagem.
14/05/2018 at 9:58 pm
Ola José… eu organizei a produção e fui co-autor do pdf linkado e ja usei muUuUuuito ele!
Acho que vc pode fazer o trabalho por partes, tipo, cria uma tabela pequena com 4 resultados, que te levam a uma segunda rolagem em uma dessas 4 tabelas.
Role 1d4 : Com 1 encontram monstros, 2 humanos, 3 mistério e 4 role 2 vezes e use os 2 resultados juntos!
Ai vc cria mais 3 tabelas:
uma com vários monstros conforme o terreno e em situações variadas tipo (1 emboscada de orcs, 2 orcs feridos de uma batalha, 3 orcs bebados acampando etc).
uma com vários grupos humanos em situações variadas tipo (1 caravana nobre gigante, 2 uma peregrinação de clerigos, uma tropa de mercenarios feridos etc)
uma com várias coisas loucas, ai recomendo usar aquele pdf q tem eventos malucos por tipo de terreno.
VEJA BEM! isso tudo que falei é so pra vc começar a se sentir mais seguro, pq o ideal é q vc mesmo crie suas tabelas, conforme seu mundo de jogo e as loucuras que idealizar!!!!
abraço e bons jogos!
30/05/2018 at 1:31 am
José, tem umas tabelas de exemplo e dicas pra construir suas tabelas nesse modelo
http://guildadosmestres.com.br/2018/05/30/criando-tabelas-de-encontros-aleatorios/
14/05/2019 at 4:09 pm
Acabei de baixar a tabela, curti demais o post.
22/05/2019 at 1:50 pm
Depois de muito tempo sem encontrar um lugar com conteúdo bacana, finalmente conheci a Guilda dos Mestres. Parabéns pelo trabalho que vem sendo feito aqui.
Curti muito o post. Valeu por compartilhar o XP com a gente.
26/11/2020 at 8:19 pm
Lembrei em uma das dicas, de um encontro aleatório numa antiga mesa, onde os pjs encontraram uma Dríade, que os ajudou. E esse encontro rolou um flerte com o guerreiro, que depois voltou lá e passou um tempo por lá. Anos depois, em níveis mais altos, um jovem foi procurar o Guerrero querendo ser seu pajem e no fim acabou descobrindo ser ser filho com a dríade.